Sempre houve muito pudor em Portugal acerca deste assunto. Podiam ser gays e andarem juntos, podia toda a gente saber disso e mais um par de botas, mas nada se via em público. Ficava tudo no segredo dos deuses, na imaginação de cada um.
Mas os tempos estão a mudar, e Portugal também.
Quando fui ao Rock in Rio, apesar de achar que a envolvência tinha um bom ambiente, nada de gente esquisita ou com ar perigoso, estavam à minha frente um casal de homens gay que, de vez em quando, gostava de se roçar no pescoço um do outro, e lá saía uma beijoca.
Tinham os 2 uma barbicha mal feita, eram ainda bastante novos (vinte e poucos), e não tinham vergonha nenhuma em se expor. Mas estávamos num concerto, supostamente num local mais descontraído e atreito a cenas alternativas (se é que assim se pode chamar), e a coisa passou mais ou menos como natural na minha cabeça.
Ontem tive de ir à Avenida da Liberdade, em pleno centro de Lisboa. Estava com a minha filha de um lado para o outro, a fazer tempo para uma consulta, quando vejo novamente um casal de homens gay sentados num dos muitos bancos de jardim que por ali abundam.
Estavam a dar beijinhos na boca, e a abraçarem-se ali à frente de toda a gente.
Atenção que eu não tenho absolutamente nada contra os gay, que ninguém tem culpa de ser como é ou de sentir o que sente. É a vida, a natureza, as circunstâncias, e toda a gente tem o direito de lutar para ser feliz. E olhem que o que escrevo é bem sincero.
Mas a questão é que eu senti que ainda não estou preparada para isto. Esta naturalidade solta que teremos de explicar aos nossos filhos, esta multi-aceitação natural com a qual temos de lidar faz-me ainda confusão. Se calhar tem de ser assim, as pessoas têm de se ir acostumando, mas isto é estranho.
O que pensarão as crianças? Que afinal é só escolher se preferimos homens ou mulheres? É que eles já são tão baralhadinhos das ideias no que as estas matérias diz respeito. Com 5 ou 6 aninhos aquilo deve ser a confusão total.
Mas resumindo: Ainda me mete confusão. Não sei lidar com esta naturalidade, e preferia que houvesse mais (algum) decoro.
E é só!
Um comentário:
Sim. As crianças deveriam crescer sabendo que podem amar tanto homens como mulheres. Assim sendo, nunca teriam problemas se por acaso na adolescência perceberem que são gays, não-binários etc... Acho importante a educação nesse sentido sinceramente.
Em relação ao "ninguém tem culpa de ser como é ou de sentir o que sente.", gostava que soubesse que soa como pena e ser homossexual não é motivo de pena. É completamente natural. Aliás, diria até que a natureza do ser humano é amar-se um ao outro independentemente do sexo.
Seria bom aprofundar o seu entendimento sobre o tema para aprender a lidar com a situação.
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