Eu hoje sou a Luísa....tirando claro aqui algumas partes mais degradantes....
Mas não consigo parar, e nada fica feito.
Não tenho perna gorda, mas tenho grandes fardos de trabalho em cima! Sobe mulher, Arre!!!
Estou a brincar, mas este poema é lindo!!! E imagino sempre a Camarada Odete a declamá-lo...hihihi
Calçada de Carriche
Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.
Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Saiu de casa de madrugada;
regressa a casa é já noite fechada.
Na mão grosseira, de pele queimada,
leva a lancheira desengonçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Luísa é nova, desenxovalhada,
tem perna gorda, bem torneada.
Ferve-lhe o sangue de afogueada;
saltam-lhe os peitos na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe, sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas, rapaziada,
palpam-lhe as coxas, não dá por nada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
pegou na filha, deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa numa golada;
lavou a loiça, varreu a escada;
deu jeito à casa desarranjada;
coseu a roupa já remendada;
despiu-se à pressa, desinteressada;
caiu na cama de uma assentada;
chegou o homem, viu-a deitada;
serviu-se dela, não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe, sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil, sem alvorada,
salta da cama, desembestada;
puxa da filha, dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa, desengonçada;
anda, ciranda, desaustinada;
range o soalho a cada passada;
salta para a rua, corre açodada,
galga o passeio, desce a calçada,
desce a calçada, chega à oficina
à hora marcada, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa,
larga que larga, puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta na hora aprazada,
corre à cantina, volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga,
puxa que puxa, larga que larga.
Regressa a casa é já noite fechada.
Luísa arqueja pela calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
sobe que sobe, sobe a calçada,
sobe que sobe, sobe a calçada.
Anda, Luísa, Luísa, sobe, sobe que sobe,
sobe a calçada.
António Gedeão, in 'Teatro do Mundo'
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