quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Crónica: Bons Ouvidos...Para que vos quero!

Num destes últimos Domingos à noite, começámos a ouvir um som esquisito vindo da zona da cozinha.

Primeiro pensámos que fosse da rua, mas depois de colocar a cabeça fora da janela, vimos que não era. Apagámos todos os electrodomésticos que estavam em funcionamento na altura para apurar melhor o local de onde vinha aquele barulho...
e era mesmo de dentro de uma das parede da cozinha que por acaso dá para o nosso quarto.
Fomos ao nosso quarto encostar o ouvido ao outro lado da parede mas... nada. Dali não se ouvia nada! Mas da cozinha era um barulho muito significativo. Começamos por pensar que fosse um cano de água roto. Mas o som era meio estranho dado que parecia sinusoidal ou seja: Tinha um tom mais alto, depois baixava, tornava a elevar-se e assim sucessivamente.
Desligámos a nossa água para despistar alguma fuga no nosso apartamento mas o ruído continuou.
Dado que o barulho tinha características estranhas, o homem cá de casa achou que não se trataria de água. Pensei então de imediato em gás! Meeedooo!!
Meu Deus, uma fuga de gás cá em casa, dentro de uma parede da cozinha?!?! Afastei de imediato os miúdos daquele local (já para não falar das imagens de explosões que me assolaram à mente) e começámos a tentar investigar mais.
Resolvemos ir ao vizinho de cima, pedir-lhe para desligar a água pois caso se tratasse de uma fuga do género, o mais certo era o cano vir de cima.

Depois de tocar à campaínha e de esperar um pouco, ninguém atendeu.
Não estava ninguém em casa, mas dado que os manípulos de água e gás estão no patamar das escadas, resolvi desligá-los mesmo sem consentimento do vizinho. Era uma emergência bolas!
Desliguei-os e rumei ao piso de baixo. O meu! Mas o barulho continuava...nada se alterou. Continuámos a colocar o ouvido junto à parede e as conclusões eram as mesmas.
O barulho estava dentro da parede da cozinha e se não era água só podia ser gás!
Desligámos o nosso gás, mas nada. Comecei a entrar em pânico e fui à Net à procura do nº do piquete de emergência. Alguém tinha de descobrir de onde vinha aquilo.
Eu não iria conseguir dormir naquele dia enquanto aquele barulho não parasse.
Atendeu-me o Sr. que estava de prevenção e que, pelo tempo que demorou a atender e pela voz que tinha, ou o interrompi enquanto limpava o rabo no WC ou já estava a roncar caído no sofá.
Disse-me que não devia ser gás pois este tem odor e sopra.

- Mas se o barulho está dentro de uma parede, não pode cheirar pois está isolado - Ripostei eu
- Pois, mas o gás não faz barulho, sopra
- Mas sopra como? - Perguntei eu já no desespero de não perceber se o barulho horrível que estava na minha cozinha era um sopro
- Faz Pffffff... - ouvi eu do outro lado da linha.
- Pois, o nosso barulho não é esse...é assim...como se fosse sinusoidal, fica mais alto e depois baixa (cheguei a pensar em encostar o auscultador à parede dado que se ouvia tão bem)
- Bom, eu posso mandar aí um piquete mas quase de certeza que não fazem nada. Veja lá nos seus vizinhos que estão diametralmente opostos se não têm em funcionamento um aparelho qualquer que faça ressonância nessa parede, e se não conseguir descobrir nada depois ligue-me.
- Bom, ok, vou então ver com os meus vizinhos.

Desliguei o telefone mas muito pouco convencida.
Desloco-me ao meu vizinho então da frente e começo o relato. Ele, amável, desliga de imediato a sua água e gás e, dado que ouve o barulho a partir do patamar das escadas onde nos encontrávamos,
perguntou se podia vir cá dentro de casa para ouvir melhor.
Assenti logo, pois naquele momento qualquer ajuda extra seria bem vinda.
Assim que entra na cozinha a primeira frase que lhe sai da boca é:

- Isto...Isto...parece um barulho electrónico
- Veja vizinho...vem aqui da parede, deste sítio - expliquei.

Ele começa a aproximar a cabeça da parede mas, ao contrário de nós os 2 que colávamos o ouvido ao local suspeito, ele começa a deslocar a cabeça para a esquerda onde tínhamos o escorredor da loiça com
talheres empinados à espera de vez para entrarem na gaveta. Cola cada vez mais a cabeça aos talheres e retira cautelosamente uma colher de criança que lá estava.

Dirige-me a colher a mim e, antes de qualquer palavra ser balbuciada, eu pensei para comigo: Mas Para que raio está o homem a mostrar-me esta colher da miúda? Se calhar vai dizer-me a seguir que as filhas dele têm uma igual!!!

Mas não!!!

O barulho que para nós vinha de dentro de uma parede vinha da...colher!
Foi esta a culpada



que tinha um botão que nós não tínhamos dado conta e que, ao ter estado em contacto com a água, deve ter feito um mau contacto que o colocou permanentemente pressionado e a fazer o barulho...sinusoidal, pois claro!!
Era o barulho de um avião a levantar e a poisar, e daí o aumento e baixo de volume.

Dei umas boas gargalhadas à conta disto! O meu marido ficou com vergonha do vizinho e sinceramente não sei o que o vizinho ficou a pensar de nós.

Mas lá que ele me salvou a noite, lá isso salvou :)