sexta-feira, 6 de março de 2015

As coisas feitas na altura certa

Via ontem, assim de relance enquanto levantava os olhos dos livros por breves momentos, o festival da canção 2015 que dava na RTP1. Quase fiquei nervosa quando vi que a Simone de Oliveira ía cantar. É que, quer queiramos quer não, com a idade nem os grandes cantores se mantêm nas suas mais perfeitas capacidades. E parece que eu tinha razão. Assim que ela começou a cantar, eu só pensava: "Oh, não...vá lá, aguenta-te...ai, essa parte correu tão mal". Estava a torcer a sério por ela. Porque tem sido uma verdadeira senhora nesta sociedade portuguesa, porque sempre se deu ao respeito e mereceu muito ser respeitada, mas acabei com pena dela, que era coisa que não queria. Às vezes não percebo o porquê destas pessoas se sujeitam a um julgamento público nesta fase da vida, tendo atingido o auge alguns anos antes. Senti o mesmo quando vi uma vez o António Calvário voltar às canções depois de décadas e, apesar dos efeitos sonoros que as máquinas agora produzem para disfarçar as desafinações, era uma autência desgraça. E se este senhor encantava tudo e todos na sua mocidade! Ainda cheguei a ver a minha mãe falar dele com os olhos a brilhar. Há uns tempos foi o Dr. Mário Soares que resolver candidatar-se de novo à presidência da república, já ía nos seus, se não me engano, 84 anos. E agora a Simone. A sério. Eu sei que tentar voltar atrás e reviver uma altura parecida àquela onde se foi muito feliz é por demasiado tentador. Mas sujeitar-se a escrutínio público, condenando uma memória áurea que todo um povo tem deles, é um preço demasiado alto.
Soube agora que a Simone vai à final. Não me espanta. O povo é amigo e tem compaixão. Mas se tenho alguma vontade que Portugal faça boa figura no festival eurovisão, tenho de torcer para que ela não passe da próxima vez, para não sair de Portugal. Cada vez mais concordo com a frase sábia que não sei de quem é, de que: "As coisas têm de ser feitas na idade certa". E não vale a pena tentar subverter a natureza.


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