quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O Choque Voz VS Imagem

Hoje vi o Nuno Markl ao vivo, num congresso a que fui. Ele era o convidado final, dando um toque de humor para finalizar o nosso dia, e sairmos dali bem dispostos depois de um dia intenso de sessões de apresentação.
E conseguiu, foi muito agradável, ainda dei umas valentes gargalhadas, como já é habitual sempre que o ouço. E houve um tema no qual ele tocou, que me fez remontar a 1986 ou 1987, mais coisa menos coisa, quando se referiu ao choque que certas pessoas tiveram quando viram finalmente a sua cara física, depois de anos a ouvir a sua voz.
Tinha eu uns 12 ou 13 anos, e colaborava pontualmente com uma rádio local num programa semanal infantil, ao sábado à tarde. Ía lá, lia umas histórias para os miúdos, respondia a perguntas sobre a minha vidinha de criança, escolhia o repertório musical, arrumava discos (sim, ainda eram discos de vinil, que antiga que já sou, meu Deus!), e divertia-me bastante com outros miúdos que faziam o mesmo que eu.
Como tinha um Amor natural àquela rádio, por a achar um bocadinho minha, durante a semana ouvia igualmente alguns dos seus programas, e um deles era ao final da tarde, todos os dias úteis. Não me lembro do nome do programa, mas lembro-me do nome do animador: Pedro Fajardo! Tinha uma voz quente, sedutora, deixando imaginar um homem jovem e encorpado com um charme certeiro. Mas um dia, já não sei bem porquê, entrei na rádio a essa hora e olhei para dentro do estúdio. Vi uma pessoa que nunca lá tinha visto (sendo uma rádio local, trabalhava por lá pouca gente e quase todos se conheciam), e perguntei ao meu irmão (que também lá colaborava), quem era aquele homem que ali estava em pé no estúdio à conversa com outro. O meu irmão, espantado com a pergunta responde:
"-Então ?!!?, é o Pedro Fajardo!".
Caiu-me tudo ao chão. O homem de voz quente, sedutora e charmoso, era magro, careca, e tinha dentinhos saídos (os chamados dentinhos de rato). Uma imagem diametralmente oposta à que constituira na minha mente enquanto escutava diariamente os seus programas.
Por isso Pedro Fajardo, se lês este blogue ou alguém o conhece, peço desculpa pelo estado de choque no qual fiquei, mas era uma miúda e sabia pouco da vida. A partir daquele momento, percebi que raramente as vozes estão alinhadas com a imagem física que constituimos na nossa mente, e não me deixei mais enganar sempre que ouço uma voz. Desde aquele dia que tento não fazer imagem das pessoas que só ouço. Ou faço várias, para a deceção não ser tão grande.

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