sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Mais um murro no estômago

Era domingo e, ao pegar no telemóvel, reparei que tinha uma chamada não atendida de uma colega de trabalho. Achei estranho, pois não é costume ligarem-me fora de horas, e pensei logo: "Beemmm, para me estar a ligar a um domingo à tarde, coisa boa não há-de ser".
E, ao entrar no carro a caminho de casa, preparei-me para devolver a chamada. Confesso que fiquei logo com friezas na barriga pois já estava à espera de coisa complicada.
Liguei uma vez, nada! Não atendeu. Comecei a ficar ansiosa. Ligo 2 vezes, não atende. Mau!!! Assim morro de ansiedade. Até que, finalmente, me liga ela de volta e eu atendo.
Adoro esta minha colega, que deve ser assim das pessoas melhores que já conheci em toda a minha vida, e a conversa começou assim com ela:
Ela - Estás em casa?
Eu - Não, estou no carro.
Ela - Vais a conduzir?
Eu (já em pânico porque percebi mesmo que a coisa era difícil) - Não, vou no lugar do pendura.
Ela - Tenho uma coisa muito triste para te contar
(esta minha colega sabe perfeitamente dos meus problemas de ansiedade e de como certas notícias me afetam)
Eu (a tremer por todo o lado) .....
Ela - A nossa colega (X) ligou-me a dizer que o marido foi jogar futebol de manhã e teve uma paragem cardio respiratória. E, apesar de todos os esforços do INEM, não o conseguiram reanimar.
Eu (em choque e já sem conseguir dizer nada)....
Esta minha colega é pouco mais velha que eu e o marido devia ter à volta de 50 anos. Ficou viúva com um filho ainda pequeno (a rondar os 8 ou 9 anos). Fiquei completamente de rastos, mal dormi nessa noite.
O funeral foi só 4 dias depois (tortura) e eu tive de lhe ir falar e enfrentar todo aquele pesadelo com ela, porque sempre fomos uma equipa unida e, para além de laços fortes de trabalho, temos também já amizades formadas.
Nada importa, mesmo!
Do tudo, ficamos sem nada.
E são estas histórias e episódios que me fazem pensar na sociedade dos nossos dias e no facto de sermos Pais tão tarde.
Antigamente, quando os Pais morriam cedo, normalmente as "crianças" já eram adolescentes e tinham algumas lembranças dos Pais.
Agora, com a sociedade a ser Pai/Mãe por volta dos 40, quando acontecem estas desgraças dos Pais falecerem muito cedo, as "crianças" são ainda mesmo crianças e mal vão ter memórias dos Pais.
É muito triste. Foi muito triste. E tudo isto, mais uma vez, nos faz pensar no que andamos aqui a fazer nesta correria do dia-a-dia.
Sejam felizes e não se preocupem muito com as coisas. Vivam o presente.
Mindfulness!



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